domingo, 15 de junho de 2008

Dependência Química

Dependência Química:
Entendimento, Tratamento e Sobriedade:


Bruno Krüger Pontes


Introdução:

“Oi meu nome é F., tenho 27 anos, casado tenho uma filhinha linda de 1 ano e 9 meses..sou usuário de cocaína há 8 anos...nunca conversei com ninguém a respeito do meu problema, nem com minha esposa. Eu nunca admiti pra ela que sou dependente químico,só Deus sabe como eu desejo largar essa porcaria, eu tento, tento e no final a cocaína sempre me vence, hoje estou num estado que já não tenho mas forças pra lutar contra.Por isso estou aqui pra pedir ajuda pra alguém que talvez já passou por isso também. Já não sei mas o que faço, minha esposa não agüenta mais me ver drogado quase todos os dias e noites; estou quase perdendo minha família que amo muito, POR FAVOR ME AJUDEM...muito obrigado!” (Depoimento de um dependente químico).
Dependência química, toxicomania, adição, drogadição, vício. São todos termos para designar um problema; um mal que aflige milhões de pessoas no mundo todo e que nos dias atuais se tornou um dos principais problemas de saúde, talvez maior até que AIDS e câncer.
As drogas sempre estiveram presentes em nossa história, desde a antiguidade até os dias de hoje, mas quais os benefícios e os males que esse elemento chamado comumente de droga pode trazer ao ser humano? Quais são seus efeitos, a nossa saúde física e psíquica? Que são e quais são as drogas hoje, quais seus efeitos e porque tamanho número de pessoas recorre a esse elemento e com quais finalidades?
Quem é o usuário de drogas, que o levou a fazer o uso, porque “vicia”? Existe tratamento para o uso abusivo de drogas?
Quais são as propostas da Psicologia para elucidar e resolver os problemas que envolvem a dependência de drogas?
Este trabalho visa tentar elucidar questões relativas ao uso abusivo de drogas tanto lícitas como ilícitas; visa também nortear os que vivem em contato direto ou indireto com este problema.


As Drogas:

A palavra droga é usada cotidianamente pela maioria das pessoas para expressar seus pensamentos e idéias, e esta palavra geralmente esta associada a algo de ruim, que não serve ou não presta. No dicionário a palavra droga esta definida como “coisa de pouco valor, algo sem bom resultado e relacionado a fracasso”. No caso deste texto a droga a qual nos referimos é “a substância que, introduzida em um organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções” (definição da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE).
A substância comumente chamada de droga é dividida em duas categorias:
Drogas Lícitas: São aquelas legalmente produzidas e comercializadas (bebidas alcoólicas, tabaco, medicamentos, inalantes, solventes, etc..), sendo que a comercialização de alguns medicamentos é controlada, pois há risco de causar dependência física / psíquica.
Drogas Ilícitas: São aquelas substâncias cuja comercialização é proibida por provocar altíssimo risco de causar dependência física e/ou psíquica (cocaína, maconha, crack, ecstasy, LSD, heroína, etc.).
Para que possamos entender melhor os nomes, de onde vieram, para qual finalidade foram criadas e como se tornaram tão populares estas drogas faz-se necessário um breve histórico sobre as mesmas.
A idéia de que o consumo de drogas é um fenômeno recente demonstra ser um equívoco. Sua presença revelou-se de múltiplas formas em diferentes sociedades ao longo da história do homem.(LAMBDA, 2003).
As primeiras civilizações de que se tem notícia já faziam uso de plantas alucinógenas para fins ritualísticos,Homero em “Odisséia”, menciona as drogas como algo “que faz esquecer o sofrimento”.
O ópio, (droga derivada da planta papoula) de propriedade sedativa, era usado em larga escala na Ásia, Europa e até no Brasil onde era vendido como xarope nas farmácias com a finalidade de sedativo para crianças “nervosas”. Foi também a droga que gerou um grande conflito entre 1839 e 1842 e outro entre 1856 e 1860 que se verificaram entre a Grã-Bretanha e a China.
No Egito antigo existem achados arqueológicos que demonstram o processo de se fazer cerveja; na Grécia e Roma o vinho era um dos principais produtos de importação e exportação e geração de renda.
Estes exemplos têm finalidade apenas de demonstrar o quão antigo é o consumo de drogas no mundo. Mas devemos nos ater a historia recente das drogas pois é desse estudo que se pode tirar o principal aspecto a ser focado que é o problema da dependência hoje.
As drogas a partir de 1900 começaram a ser tornar populares, isto é, acessíveis a todos e a todas as camadas da população, tanto na forma de remédios como através da venda ilegal das mesmas. A população começou a consumir mais drogas com os mais variados objetivos, desde o alivio do sofrimento físico ou até por pura recreação, este consumo também se dava desta forma em outras épocas da história mas não da forma e intensidade que se deu após 1900. As indústrias farmacêuticas nessa época eram capazes de produzir uma quantidade enorme de substâncias psicoativas, e as pesquisas por novas substâncias eram constantes, sendo assim até hoje. Em 1898 a empresa farmacêutica Bayer começa a produção comercial de heroína usada contra tosse.1956, os EUA banem todo e qualquer uso de heroína. Em 1905 cheirar cocaína torna-se popular. Os primeiros casos médicos de danos nasais pelo uso de cocaína são relatados em 1910. Em 1914 cocaína é banida dos EUA. Em 1942 o governo dos EUA estima em cinco mil as mortes relacionas ao uso abusivo da cocaína. Nos anos setenta o uso de cocaína passa a ser “glamorizado”, usar cocaína era sinônimo de status social. A indústria farmacêutica alemã Merck registra o MDMA (princípio ativo do ecstasy) como redutor de apetite. 1953, o exército americano realiza testes com ecstasy em animais, o objetivo era investigar a utilidade do agente em uma guerra química. Após ser sintetizado em 1965, época em que o esctasy começou a ser usado em segredo por psicoterapeutas o uso recreativo de ecstasy ganha as ruas e em 1984 a droga é proibida no EUA e inserida na categoria dos psicotrópicos mais perigosos. Na década de trinta inicia-se um movimento de proibição da maconha que alcança praticamente todos os países do ocidente.A Holanda libera a venda de maconha em bares coffee-shops em 1984.
No Século dezenove, surgem os charutos e cigarros. Até então, o tabaco era fumado principalmente em cachimbos e aspirado na forma de rapé. Entre 1950 e 1960 os cientistas fazem as primeiras descobertas da relação do fumo com o câncer de pulmão.
O químico suíço Albert Hofmann ingere, por acidente, uma dose de LSD-25, substância que havia descoberto em 1938. Com isso, ele descobre os efeitos da mais potente droga alucinógena. O LSD é proibido nos EUA. Seus maiores defensores, como os americanos Timothy Leary e Ken Kesey, defensores do uso do alucinógeno para fins espirituais, começam a ser perseguidos.
O que se observa hoje é a grande quantidade de drogas disponíveis no “mercado”, a grande variedade de preços, e isso deve ser levado em conta pois reflete na questão de que o giro de capital relacionado tanto ao tráfico de drogas quanto a venda de drogas lícitas é enorme, e há quem afirme que as drogas hoje respondem como a segunda maior rentabilidade do mundo perdendo apenas para o petróleo, mas estes são dados impossíveis de serem confirmados devido a forma ilegal de como a droga é comercializada.
De acordo o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) estima-se que 205 milhões de pessoas no mundo todo usem algum tipo de droga, ilícita ou não. A mais comum é a maconha, seguida das anfetaminas, cocaína e os derivados do ópio, como a morfina.


A Dependência Química:


A dependência de drogas é uma questão muito abrangente e possui vários fatores que devem ser levados em conta para que possa ser explicado corretamente como ocorre a dependência e quais os fatores que propiciam o surgimento da dependência de drogas.
Apesar de existir uma enorme variedade de explicações teóricas para a dependência de drogas, há um conceito unânime: dependência é uma relação alterada entre um indivíduo e seu modo de consumir uma substância. Essa relação alterada é capaz de trazer problemas para o seu usuário. Muitos indivíduos, porém, não apresentam problemas relacionados ao seu consumo. Outros apresentam problemas, mas não podem ser considerados dependentes. Por último, mesmo entre os dependentes, há diferentes níveis de gravidade.
Portanto, buscar um conceito sobre dependência a substâncias psicoativas não se completa pela constatação de sua presença ou ausência. Mais do que saber se ela está lá, é preciso identificar e determinar seu grau de desenvolvimento. Além disso, é preciso entender como os sintomas observados são moldados pela personalidade dos indivíduos e pelas influências sócio-culturais.
O conceito atual dos transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas rejeitou a idéia da existência apenas do dependente e do não-dependente. Existem, ao invés disso, padrões individuais de consumo que variam de intensidade e gravidade.
Não existe um consumo absolutamente isento de riscos. Quando este é comedido e cercado de precauções preventivas, é denominado consumo de baixo risco. Quando o indivíduo apresenta problemas sociais (brigas, faltas no emprego), físicos (acidentes) e psicológicos (heteroagressividade) relacionados estritamente àquele episódio de consumo, diz-se que tais indivíduos fazem uso nocivo da substância. Por fim, quando o consumo se mostra compulsivo e destinado à evitação de sintomas de abstinência e cuja intensidade é capaz de ocasionar problemas sociais, físicos e ou psicológicos, fala-se em dependência.
A Organização Mundial de Saúde reconhece as dependências químicas como doenças. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal da pessoa, que lhe seja prejudicial. Por definição, como o diabete ou a pressão alta, a doença da dependência não é culpa do dependente; o paciente somente pode ser responsabilizado por não querer o tratamento. Exatamente da mesma maneira que poderíamos cobrar o diabético ou o cardíaco de não querer tomar os medicamentos prescritos ou seguir a dieta necessária. Dependência química não é simplesmente "falta de vergonha na cara" ou um problema moral.
A dependência de drogas é uma doença incurável. Incurável porque para o dependente químico não existe a possibilidade de a doença simplesmente desaparecer como no caso de uma gripe que através do uso de medicamentos e repouso o vírus abandona o corpo, ela é uma doença bio/psico/social, isto é, engloba fatores de predisposição genética, fatores psicológicos e culturais. O que existe é tratamento para interrupção do uso e reestruturação psíquica para que o sujeito possa novamente viver de forma saudável e participativa controlando a doença através de abstinência e progressivo aprimoramento psíquico, moral e social.
É uma doença progressiva, quanto mais drogas se usa mais dependente vai-se tornando e quanto maior o tempo de uso maior é o grau de dependência. É também uma doença fatal, pois as drogas destroem o corpo humano causando inúmeros males ao usuário e estes males levam-no a morte.
A dependência química então é uma doença incurável progressiva e fatal, mas que com tratamento adequado pode ser interrompida para que o sujeito possa viver novamente uma vida de sobriedade.


O Dependente Químico:

Iremos agora analisar quem é o sujeito que faz o uso abusivo de drogas, aquele que segundo as classificações acima se enquadra no perfil de dependente químico.
O dependente químico é o usuário de drogas que perdeu ou nunca teve controle sobre o uso de substância. Ele é um escravo a serviço do efeito que a droga produz em seu corpo. Mas como começa esta escravidão e quais as “etapas” que levam a uma pessoa a se tornar vitima de sua própria autodestruição moral, física e psíquica?
Varias pesquisas foram realizas para identificar o que leva uma pessoa a fazer uso de substâncias que prejudicam sua integridade como ser humano e varias foram as respostas encontradas, mas ainda não existe um consenso sobre o tema, o que se sabe é que a maioria dos usuários tem seus primeiros contatos com drogas no ambiente em que supostamente estariam mais seguros, dentro de casa.
O exemplo de uso de substâncias vem da família. As crianças desde muito pequenas, através dos pais começam a experimentar remédios que tem o objetivo de lhes aliviar as dores e males os quais as mesmas estão sentindo e a associação que se faz no cérebro destas crianças é a de que um agente externo (substância química) alivia o sofrimento e foi oferecido justamente pelos pais. Mas se a maioria das famílias faz uso de medicamentos para aliviar seus males e os males de seus filhos porque, então não são todos dependentes de substâncias. O que ocorre na verdade é a forma de relação, ou melhor, a dinâmica familiar que é utilizada para se relacionar com as substancias químicas. Algumas famílias adotam um comportamento permissivo em relação às substâncias, utilizando-as como alternativa para a solução imediata de suas angústias. Os exemplos familiares são muitos, desde o pai que chega em casa com ares de raiva, estresse ou mau-humor e recorre a um copo de uísque ou comprimidos para dor de cabeça até uma mãe que para emagrecer faz uso de remédios moderadores de apetite ao invés de exercícios físicos regulares. Outro fator recorrente é a falta de diálogos sobre os problemas de uso de substâncias químicas, mesmo os remédios. Quantos pais informam seus filhos sobre a necessidade de se tomar remédios somente quanto houver doenças?
Estes fatores estimulam, na criança um falso entendimento de que para qualquer problema existe uma substância a ser usada que trará a solução imediata, e estas informações definem na criança traços de comportamento relacionados ao uso de substâncias que para serem mudados na vida adulta são muito mais difíceis.
Outro fator não menos relevante e que também diz respeito à família é a forma de criação que é dada aos filhos. Em uma família onde pais são ausentes, extremamente autoritários, violentos, imaturos, desonestos e inconseqüentes pode-se criar uma lacuna na personalidade dos filhos, seria como se uma peça de quebra-cabeça faltasse para que o sujeito pudesse desempenhar seus papéis na vida e esta falta necessitaria ser preenchida com algo para que o sofrimento da falta fosse amenizado.
Os aspectos culturais também tem sua parcela de contribuição na construção de dependentes químicos. Inúmeros fatores podem ser relacionados, citemos, apenas alguns exemplos: quando o sujeito sente a necessidade de pertencer a determinado grupo e para que isso ocorra tem de usar drogas. A relação amorosa que só se concretizará se houver aceitação da droga nesta relação. As propagandas e programas que fazem apologia as drogas vendendo imagens de felicidade relacionadas a mesma. A facilidade e disponibilidade com se encontram drogas hoje.
Existem também a condição de pré-disposição genética que afirma que filhos cujos pais tenham tido histórico de abuso de substâncias são mais suscetíveis a fazer uso de drogas.
Entremos agora na identificação do usuário de drogas e as características apresentadas pelo mesmo que propiciam uma identificação do uso abusivo de drogas.
Identifica-se o usuário de drogas quando este apresenta alguns comportamentos muito característicos tais como: Inquietação, irritabilidade, ansiedade, cacoetes, perda de interesse por atividades rotineiras, troca o dia pela noite, insônia, perda de apetite ou apetite exagerado, sono prolongado, descuido com aparência e higiene pessoal, agressão, mudança de amizades e relacionamentos, falta de relacionamento com familiares, sinais de cansaço, olheiras, olhos avermelhados, necessidade constante de dinheiro e manipulação. Estas são algumas identificações gerais que apresentam os usuários de drogas.
Das características apresentadas podemos identificar algumas que estão presentes na grande maioria dos usuários. O usuário de drogas geralmente apresenta comportamento impulsivo, não tem paciência em esperar que as coisas aconteçam normalmente. A ação e o efeito rápido provocado pelo uso de drogas substitui a ação normal dos fatos. O dependente apresenta incapacidade de enfrentar problemas, frustrações, e muitas vezes recorre as drogas para enfrentar a angústia, de forma a buscar sempre a gratificação imediata, pois não aprendeu a controlar o impulso com o pensamento. Geralmente usa de alguns mecanismos para com as pessoas de forma a manipulá-los. Ilude-se a respeito de sua condição e nega a realidade, não admite a dependência química, acha pode parar quando quiser .Justifica seus comportamentos insanos, negando a realidade e a causa do comportamento, que é a droga. O indivíduo minimiza o problema, levando a se iludir sobre sua própria condição. Projeta suas dificuldades nas outras pessoas, e vê características dos seus comportamentos nos outros, de forma que as pessoas que o rodeiam é que são o problema. (Cruz Azul No Brasil, 2000)
A possibilidade de identificação do dependente químico nem sempre é muito fácil, requer uma constante observação para que se possa verificar se o mesmo se enquadra na maioria dos comportamentos e atitudes citadas acima. Uma avaliação psicológica ou psiquiátrica é sempre valida para que se possa identificar corretamente o dependente químico.


Dependência Química e Família:

Quando falamos em dependência química sempre nos vem a mente o quadro do dependente químico, as drogas, os problemas gerados pelo uso e a situação degradante em que o usuário se encontra. Mas não podemos esquecer que assim como o dependente se encontra em estado de desequilíbrio a família do mesmo se encontra da mesma forma pois a desestruturação causada pela droga ou álcool afeta não só o dependente mas todo o núcleo familiar em que o mesmo esta inserido.
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é caracterizado por varias reações que vão ocorrendo no núcleo familiar e pelas quais a família atravessa nem sempre sabendo como defender-se ou solucionar o problema.
Em um primeiro momento, do uso de drogas por um dos familiares a família tende a negar o fato, evitando falar sobre o problema e conseqüentemente a comunicar-se menos entre si, é o que chamamos de mecanismo de negação. O mecanismo de negação é uma defesa da mente que tem a finalidade de preservar a energia psíquica para questões com as quais não se sabe lidar, isto é, para problemas que não se sabe resolver. Mas esta negação leva a família a um aumento de tensão. A família, se apercebendo do fato da persistência do problema entra em situação de “alarme”, e iniciam as primeiras tentativas de solucionar o problema.
É quando ocorre as intervenções familiares tais como: tentativas de controlar o uso da droga, aconselhamentos, brigas, discussões, busca de respostas para o problema e promessas de interrupção de uso que sempre estão associadas a mentiras e manipulação por parte do dependente para com os familiares.
A família se vê então derrotada em sua tentativa de frustrar o uso de drogas, é quando afloram complexos emocionais rígidos por parte de todos os integrantes e inicia-se o processo de desestruturação familiar propriamente dito. Os pais assumem papéis de afastamento ou super-proteção para com o filho dependente, ou a esposa assume papel de mantenedora da casa para suprir as necessidades do marido alcoolista, ou ainda ocorrências mais graves com problemas de saúde, distúrbios de comportamento que levam a situações calamitosas dentro do núcleo familiar.
Tais situações levam toda a família a se perder em um emaranhado de conflitos íntimos e relacionais que a capacidade de pensamento e sentimentos fica completamente prejudicada ocasionado uma doença em toda família, seria como se toda a família estivesse dependente da situação dependência química. A necessidade de tratamento dos familiares do dependente químico muitas vezes é necessária para que se possa estabelecer novamente esta capacidade de autonomia dos membros da família e sua continuação nos papéis de sócias, familiares, amorosos, etc.
A família deve procurar tratamento psicológico adequado, independentemente do dependente estar se tratando ou não para que esta possa continuar saudável e estruturada.


O Tratamento:

A questão do tratamento para dependentes químicos esta sendo cada vez mais discutida em todos os setores da saúde e entre os órgãos governamentais, estendendo-se até a sociedade civil organizada que já participa ativamente das discussões sobre a necessidade resolverem problemas relacionados as drogas.
Iniciemos a explanação com uma pergunta: Todo dependente químico precisa de tratamento ou é possível interromper o uso de drogas sem tratamento? Esta pergunta remete a uma crença geral da população e principalmente dos dependentes em que o pensamento principal é refletido na possibilidade de interromper o uso quando bem desejar. A possibilidade de um dependente parar de usar drogas por espontânea vontade pode ocorrer, dependendo do grau de dependência que este apresente, mas mesmo com esta interrupção o mesmo necessita de tratamento para reorganizar sua mente.
Então todo dependente químico precisa de tratamento? Sim. A resposta afirmativa remete a questão de que devido ao uso de drogas o sujeito perdeu, ou transviou questões relativas ao comportamento que precisam ser reestruturadas através de tratamento.
Das formas de tratamento existentes hoje, podemos citar a intervenção psicoterápica, a psiquiátrica, a internação em instituição competente e os programas de auto-ajuda.
Para sabermos qual deve ser o tratamento adequado para o dependente faz-se necessária uma avaliação por um psicoterapeuta ou um psiquiatra para que o mesmo verifique em que grau de dependência e comprometimento comportamental o usuário de drogas se encontra, após esta avaliação o profissional sugere ao paciente (dependente químico) o local mais indicado para seu tratamento.
Todo tratamento em dependência química requer abstinência, isto é, requer interrupção completa do uso de qualquer substância psicoativa (droga, álcool, remédios), sem isso o tratamento torna-se, se não impossível, provável de falha devido à futuras recaídas.
As recaídas são o retorno as drogas após o tratamento, são freqüentes as recaídas não só por tratamentos mal sucedidos, mas pela falta de mudança de comportamento do dependente. Para que haja um tratamento bem sucedido é necessária uma mudança de comportamento do dependente, novos conceitos devem ser assimilados, velhos comportamentos serem transformados e novos valores de vida adquiridos, assim como vários outros fatores que compõe cada forma de tratamento e que variam entre o dependente e o responsável pelo tratamento.
Existe um tratamento cem por cento eficaz? Não, todos os tratamentos tem sua eficácia mas todos eles dependem de um fator primordial que é a vontade do dependente de efetuar em si uma mudança real e duradoura de comportamento em relação a sua dependência.
Todo dependente químico deve procurar tratamento, e os familiares o devem também para que se restabeleça a ordem psíquica dentro da família e as recaídas sejam prevenidas.


Estatísticas:

De acordo com o “World Drug Report” (2007), instituto especializado em coleta de dados sobre drogadição e trafico de drogas no mundo, a situação do mundo até a ultima coleta de dados era a seguinte:
- Usuários esporádicos de drogas ilícitas = 300 milhões (4,8% da população mundial.)
- Usuários que apresentam problemas por uso de drogas = 25 milhões 0.6% da população mundial.)
- Usuários de maconha = 158.8 milhões
- Usuários de anfetaminas = 24.9 milhões
- Usuários de ectasy = 8.6 milhões
- Usuários de cocaína = 14.3 milhões
-Usuários de derivados de ópio = 15.6 milhões
- Usuários de heroína = 11.1 milhões
No Brasil as drogas ilícitas mais usadas são a maconha, cocaína e anfetaminas. Os dados estatísticos brasileiros são ainda imprecisos ou pouco divulgados o que se sabe é:
Segundo a DATAPREV, em 1989, de 205.363 indivíduos internados por uso de drogas em hospitais psiquiátricos, 95,6% (196.324) foram devido ao álcool e 4,4% (9.039) pelas demais drogas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1991).Com a prevalência durante a vida entre 7,6% a 9,2%, e dez vezes mais freqüente em homens do que em mulheres, o alcoolismo é um dos problemas mais importantes de Saúde Mental no Brasil (ALMEIDA FILHO e cols., 1997).
As capitais diferiram em relação ao derivado predominante como, por exemplo, o crack em São Paulo e em Recife, a merla em Brasília e em Goiânia, e o cloridrato (pó aspirado) no Rio de Janeiro. O consumo de medicamento psicotrópicos (como Rohypnol®, Artane® e Benflogin®) foi mencionado principalmente na Região Nordeste. Embora na média brasileira, o uso no mês tenha sido citado por 5% dos jovens, atingiu, por exemplo 31,3% em Recife. (Cebrid - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).
O último levantamento feito pelo Cebrid, revela que 50% dos estudantes brasileiros entre 10 e 12 anos já consumiram bebidas alcoólicas, 11,6% com mais de 12 anos já usaram drogas.
O Brasil é um dos países emergentes no mercado internacional do consumo de drogas, há cinco anos não aparecia na lista dos maiores consumidores de cocaína e agora ocupa o segundo lugar mundial, com cerca de 100(cem) toneladas por ano, de acordo com dados do governo brasileiro.
Os dados coletados a nível nacional ainda são feitos por região e prevalência de uso, e até onde é sabido não foi feita uma compilação para melhor entendimento do consumo de drogas no Brasil.


Conclusão:

As drogas são, hoje um problema de saúde pública em todos os países do mundo e seu consumo tem aumentado a cada dia, a faixa etárias de usuários de drogas tem diminuído, e as drogas estão se tornando cada vez mais elaboradas e com potencial dependencial aumentado. Buscam-se soluções tanto no Brasil com em outros países para este problema que se torna endêmico e movimenta bilhões de dólares em investimentos para soluções, mas até o momento tem-se conseguido pouco resultado para minimizar ou diminuir os danos e problemas causados pelas drogas. Faltam campanhas de conscientização e elucidação em relação as drogas, e pouco investimento para combater tanto o tráfico de drogas quanto o tratamento de dependentes químicos.
Os vários tipos de tratamentos disponíveis, tem tido resultados satisfatórios a longo prazo recuperando pessoas da dependência química, e a sociedade tem tido um pouco mais de consciência da necessidade de tratamento para os dependentes químicos.
Este trabalho vem contribuir para a melhor elucidação do problema do uso de drogas, priorizando o melhor entendimento sobre as drogas e as possibilidades de tratamento para aqueles que necessitam, colocando nas mãos de dependentes químicos e familiares a ferramenta para uma vida livre da escravidão das drogas.
Ajudar-se ou ajudar outros começa pela conscientização do problema, e a procura de ajuda, dando estes passos a possibilidade de sucesso se torna possível.


Referências Bibliográficas:

- FIGLIE NELIANA BUZI, BORDIN SELMA, LARANJEIRA RONALDO “Aconselhamento em Dependência Química”, Ed. Roca, 2001
- GIGLIOTTI ANALICE, GUIMARÃES ANGELA, “Dependência, Compulsão e Impulsividade”, Ed. Rubio, 2007
- BRAUN IVAN MARIO, “Drogas perguntas e respostas”, MG Editores, 2007
- CARNEIRO HENRIQUE, “Pequena Enciclopédia das Drogas e Bebidas”, Ed. Campus, 2005
- “World Drug Report”, 2007




Dados do Autor:

Bruno krüger Pontes, psicólogo clínico formado em 2001
Especialista em Psicologia Analítica
CRP – 08/08867